02 March 2012

A CONSTRUÇÃO DE UMA MARCA DE ROUPA

A postagem de hoje será um pouco diferente, uma vez que gostaria de apresentar para vocês (e para quem não leu) uma matéria que saiu no The Wall Street Journal sobre uma marca de camisetas, da concepção até a ida ao mercado, incluindo a fixação de preços.

Mas, por que eu achei esta matéria tão interessante?

Antes de me interessar por este segmento de moda, a ponto de querer aprender mais e até empreender no ramo, eu era uma consumidora como outra qualquer: ia a uma loja e olhava a roupa. Via se me agradava, se servia e claro, qual era o preço cobrado. Depois de uma breve avaliação, considerando estes fatores, resolvia se levaria ou não. Muitas vezes até gostava, caia bem, mas o preço não combinava, ultrapassava o que eu estava disposta a pagar. Ou seja, excedia o valor que eu havia atribuído àquela peça.

Depois de fazer um curso de Técnicas de Costura e Acabamentos, onde aprendemos como pregar um zíper, fazer uma barra, quais os tipos de costura utilizados nas confecções, comecei a ver de verdade o valor de uma roupa.

Se vocês soubessem as etapas necessárias e o trabalho que uma simples camisa pode dar, entenderão o que eu estou dizendo. Isto sem contar que não fizemos a modelagem, a construção da peça em si e responsável pelo bom caimento (quando bem feita, é claro).

Depois desta experiência, não apenas eu, mas também todos os colegas de curso saímos com um olhar mais crítico, no sentido de olhar a roupa com mais cuidado e atribuindo um valor maior, visto que sentimos na prática o que é e quanto pode demorar o desenvolvimento de uma só peça.

Não significa é claro, que por conta desta valorização, aceitamos pagar qualquer preço por uma roupa, mas aprendemos como avaliar melhor, considerando a marca, o cuidado com a modelagem, o tipo de tecido em que foi confeccionada, os acabamentos utilizados, o capricho com a embalagem, etc.

Nesta matéria vocês poderão ter uma idéia do que ocorre nos bastidores e as decisões que precisam ser tomadas para que uma roupa chegue até você.

Então, sem mas delongas, vamos ao artigo :)

A História por Trás de uma Camiseta de US$ 155 
Por Christina Binkley

"Cada peça de roupa tem uma história. Há muito mais numa camiseta tipo polo de US$ 155 que tem um metro de tecido, quatro botões e um pouco de linha.

A trajetória que uma camiseta polo KPMacLane oferece é uma rara oportunidade para espiar o que ocorre por dentro do planejamento e das operações globais que a produção das roupas que usamos envolve.


A história começa com a verdadeira KP MacLane - Katherine MacLane, que fundou a grife junto com o seu marido Jared.

O casal se conheceu quando trabalhavam como gerentes de vendas das Hermès (empresa francesa fundada em 1837 por Thierry Hermès, que nasceu como produtora de arreios para cavalos. Ao longo do tempo, passou a produzir diversos produtos de luxo, dentre eles, roupas) na luxuosa área de Beverly Hills, Califórnia. Eles compartilhavam o gosto por camisetas polo e seus armários estavam cheios de versões feitas por Ralph Lauren, Hermès, Lacoste, J. Crew, Vines Vineyard e outros. Quando decidiram se mudar para Atlanta e lançar uma empresa no ano passado, suas mentes puseram o foco nestas camisetas. "Desde o início, sabíamos que amávamos as peças clássicas", diz Katherine.

Uma faceta notável na indústria da moda é que os obstáculos para iniciantes são baixos. Muitos grandes nomes do design começaram com empreendimentos pequenos. Thakoon Panichgul (desenhista de moda nascido nos Estados Unidos) vendeu sua primeira coleção em cima de uma lata de lixo invertida dentro de uma armazém em Nova York e Zac Posen (outro desenhista de moda americano) vendeu seu primeiro projeto na sala de estar da casa de seus pais.

Embora isso dê esperança a iniciantes, também há um grande risco. As lojas estão cheias de roupas de marcas que desaparecem muito rapidamente da memória. Destacar-se é um desafio.

No entanto, os MacLane acreditavam que havia uma camiseta que ainda não tinha sido feita: uma polo que pudesse ir do esporte ao escritório. A idéia era abrir mão de um logotipo chamativo para que a camiseta pudesse ser usada por baixo de um blazer. A versão feminina teria mangas mais longas e ajustadas e uma linha de botões ligeiramente mais profunda.

"Queria que meus colares pudessem ser vistos, algo que fosse mais aberto, mas sem revelar demais". diz Katherine.

Eles planejavam vender as camisetas da mesma forma que haviam vendido produtos de luxo: com um serviço atencioso e embalagem atraente. Eles venderiam primeiro on-line e mais tarde, por atacado para as lojas.

A realidade bateu a porta quando o casal começou a procurar por um tecido de algodão fino e botões de madrepérola. "Aprendemos da nossa experiência na Hermès que os melhores tecidos vêm da França e Itália", diz Katherine. No entanto, eles levaram seis meses para encontrar um fornecedor de tecido macio e bem feito, sem corantes e químicos nocivos.

Os tecido de algodão puro se provaram mais difíceis de tingir e mais duros que algumas mesclas, e a trama (fios horizontais, que correspondem ao comprimento do tecido. Junto com o urdume, que são os fios verticais, que correspondem a largura, é formado o tecido de algodão, por exemplo)  que haviam escolhido, parecia muito casual. Os preços do algodão subiram durante uma fase de escassez global no ano passado. Eles acabaram escolhendo uma mescla de algodão e modal (uma fibra de celulose), suave ao tato, com bom caimento e boa absorção de cores. O tecido feito por uma fábrica perto de Paris, custava US$ 6,80 o metro, menos que os US$ 9 do tecido de algodão, mas mais que algumas mesclas que haviam pesquisado por US$ 5 o metro.


Seus planos para os botões também mudaram. Cada botão de madrepérola custava US$ 1. As amostras quebravam durante o uso e lavagem. Os MacLane estavam usando quatro botões em vez de dois (três na frente da camiseta e um extra), elevando o custo por camisa. Eles encontraram um botão de plástico durável com um brilho semelhante por US$ 0,3 centavos de dólar cada. "Estamos chamando isso de abordagem prática do luxo", diz Jared.


Encontrar uma fábrica para costurar as camisetas foi outro desafio. O casal queria fabricar nos Estados Unidos. "Houve uma grande mudança na tendência de preferir coisas que são feitas localmente, e queríamos fazer parte disso", diz Jared.

A primeira fábrica que eles contataram, em Manhattan, Nova Iorque, não quis fazer uma oferta. O proprietário acreditava que eles copiariam seus modelos e amostras para envia-los para produção na China.

Acabaram  encontrando uma fábrica no Brooklyn, também em Nova Iorque, disposta a produzir as amostras. Nessa etapa, tiveram que mudar alguns detalhes no acabamento. A costura francesa (tipo de costura utilizada para o fechamento de roupas, deixando um acabamento limpo e valorizando a peça, bastante usada em camisas masculinas), parecia muito grande no tecido elástico e foi trocada por uma mais fina. Também fizeram ajustes para que a parte traseira fosse mais comprida para facilitar o trabalho de coloca-la por dentro da calça sem que enrolasse.


Na hora de escolher a embalagem, o casal se preocupou com a idéia de que as caixas virariam lixo. Uma tarde, Katherine MacLane tirou do armário um saco de pano que ela estava usando para guardar alguns cachecóis. Era do hotel em Sea Island, no Estado da Geórgia, onde eles tinham se casado. Ela propôs ao marido "Que tal a gente enviar as camisetas em sacos de pano?" A idéia pareceu brilhante ao marido, recorda Jared.

Foram necessárias várias interações para chegar ao logotipo, um pássaro colorido, bordado no saco de linho. Graças a experiência na Hermès, eles sabiam que o Vietnã tem uma grande reputação para a produção de bordado feito à mão, então decidiram produzir lá os sacos, que custam US$ 3.

As etiquetas são produzidas por uma gráfica perto de Atlanta, usando cordões de uma empresa no Texas.



No final, o custo dos materiais e mão de obra para cada camiseta foi de US$ 29,57. Isso os fez lembrar do cinismo do proprietário da fábrica em Manhattan, que tinha previsto que eles levariam o trabalho de produção para a China. As fabricas na China, descobriram, poderiam produzir camisetas semelhantes - sem os materiais escolhidos pelos MacLane - por apenas US$ 1 ou US$2.

Usando os padrões de preço da indústria, o casal MacLane fixou o preço de atacado para a versão feminina da camiseta polo em US$ 65 e o preço do varejo, em US$ 155.

Com os lucros, os MacLane pagam seus salários e cobrem os custos de marketing, despesas gerais, investem em desenvolvimento de novos produtos - e pagam para o envio das camisetas vendidas on-line.

As camisetas acabadas são enviadas à casa deles em Atlanta. O casal se encarrega das encomendas diárias enquanto cuidam do filho de 10 meses. "Sabemos bem como dobrar". diz Katherine. "Afinal de contas, nós dois trabalhamos na Hermès"."


Como puderam ver, há muitas escolhas a se fazer em cada etapa do processo e não necessariamente estas escolhas se mostram eficientes ou melhores ao longo do caminho. É preciso testar o tempo todo, buscar alternativas, usar a criatividade para se chegar a um produto consistente, próximo ao que foi idealizado e que agrade ao público ao qual se pretende atingir. Esta por si só é uma etapa bem complexa, mas isto deixaremos para uma próxima prosa :)


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